Exames Nacionais - Alberto Caeiro

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Exercícios para o Teste de Avaliação

«Caeiro faz a apologia daquilo que se vê, que nos é revelado e coloca a criação poética no plano do fenómeno natural (tal como a árvore dá frutos, o homem cria versos)»


Num texto bem organizado, de 100 a 200 palavras, comente a afirmação anteriormente transcrita, fundamentando-se nos textos estudados do e sobre o poeta.



XXVI


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às cousas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as cousas,
Perante as cousas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!


Alberto Caeiro



Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1 - Explique a importância da referência à “luz perfeita e exacta” (v.1) para a compreensão da questão que o sujeito poético coloca a si próprio na primeira estrofe.

2 - Apresente uma possível interpretação para as interrogações patentes da segunda estrofe.

3 - Explicite a tensão dramática vivida pelo “eu”.

4 - Comente a importância do último verso para a compreensão de todo o poema.



Leia, atentamente, o seguinte texto.

“(…) O primeiro grau da poesia lírica é aquele em que o poeta, concentrado no seu sentimento, exprime esse sentimento. Se ele, porém, for uma criatura de sentimentos variáveis e vários, exprimirá como que uma multiplicidade de personagens, unificadas somente pelo temperamento e o estilo. Um passo mais, na escala poética, e temos o poeta que é uma criatura de sentimentos vários e fictícios, mais imaginativo do que sentimental, e vivendo cada estado de alma antes pela inteligência que pela emoção. Este poeta exprimir-se-á como uma multiplicidade de personagens, unificadas, não já pelo temperamento e o estilo, pois que o temperamento está substituído pela imaginação, e o sentimento pela inteligência, mas tão-somente pelo simples estilo. Outro passo, na mesma escala de despersonalização, ou seja, de imaginação, e temos o poeta que em cada um dos seus estados mentais vários se integra de tal modo nele que de todo se despersonaliza, de sorte que, vivendo analiticamente esse estado de alma, faz dele como que a expressão de um outro personagem, e, sendo assim, o mesmo estilo tende a variar. Dê-se o passo final, e teremos um poeta que seja vários poetas, um poeta dramático escrevendo em poesia lírica. Cada grupo de estados de alma mais aproximados insensivelmente se tornará uma personagem, com estilo próprio, com sentimentos porventura diferentes, até opostos, aos típicos do poeta na sua pessoa viva. E assim se terá levado a poesia lírica - ou qualquer forma literária análoga em sua substância à poesia lírica - até à poesia dramática, sem todavia lhe dar a forma de drama, nem explícita nem implicitamente.(…)”


Fernando Pessoa, [Prefácio]às Ficções do Interlúdio



1. Para cada um dos quatro itens que se seguem (1.1., 1.2., 1.3. e 1.4.), escreva, na sua folha de respostas, a letra correspondente à alternativa correcta, de acordo com o sentido do texto.

1.1. Neste excerto, Fernando Pessoa teoriza sobre a
a) génese da poesia lírica.
b) criação poética dramática.
c) gradação inerente à passagem da poesia lírica a dramática.
d) origem da despersonalização do poeta e da poesia.


1.2. Numa primeira fase, a poesia lírica corresponderia à
a) expressão dos sentimentos do poeta.
b) divulgação de uma multiplicidade de personagens.
c) manifestação de sentimentos fictícios.
d) concepção dramática da poesia.


1.3. A poesia dramática tem como resultado a
a) capacidade imaginativa do poeta.
b) substituição do temperamento pela imaginação.
c) recusa da emoção e do predomínio da intelectualização.
d) transformação do poeta em vários poetas.

1.4. Levar a poesia lírica até à dramática exige a
a) atribuição de uma personagem a cada grupo de estados de alma.
b) aproximação dos sentimentos dos outros poetas aos do poeta principal.
c) existência de sentimentos comuns e específicos em cada poeta inventado.
d) proximidade entre as personagens criadas e a pessoa viva que as criou.



Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa



Elabore um texto expositivo-argumentativo (de cem a duzentas palavras) a propósito da afirmação:


Alberto Caeiro, o Mestre, liberta Fernando Pessoa da dor de pensar.

As três fases distintas de Álvaro de Campos




Perfil literário de Álvaro de Campos



Perfil literário (As três fases poéticas)




Com algumas composições iniciais que algo devem ao Decadentismo ("Opiário"), Álvaro de Campos é, sobretudo, o futurista da exaltação da energia até ao paroxismo, da velocidade e da força da civilização mecânica do futuro, patentes na "Ode Triunfal".
É o único heterónimo que reconhece uma evolução ("Fui em tempos poeta decadente; hoje creio que estou decadente, e já o não sou"). Passa por três fases: a decadentista, a futurista e sensacionista e, por fim, a intimista.

1ª fase: decadentista
Esta fase poética traduz-se por sentimentos de tédio, enfado, náusea, cansaço, abatimento e necessidade de novas sensações. Tal é o reflexo da falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Esta fuga era feita habitualmente à base de estupefacientes, como era o caso do ópio. Um dos poemas mais exemplificativos desta fase é o "Opiário", escrito por Fernando Pessoa em 1915 para o primeiro número do Orpheu, todavia, datado de Março de 1914 para documentar, mistificando, uma primeira fase de Campos.


2ª fase: futurista e sensacionista
A fase futurista-sensacionista assenta numa poesia repleta de vitalidade, manifestando a predilecção pelo ar livre e pelo belo feroz que virá contrariar a concepção aristotélica de belo ("Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, / Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos". - "Ode Triunfal").
Após a descoberta do futurismo (de Marinetti) e do sensacionismo (de Walt Whitman), Campos adoptou, para além do verso livre, um estilo esfuziante, torrencial, espraiado em longos versos de duas ou três linhas, anafórico, exclamativo, interjectivo, monótono pela simplicidade dos processos, pela reiteração de apóstrofes e enumerações, mas vivificado pela fantasia verbal duradoura e inesgotável.
Álvaro de Campos, além de celebrar o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna, canta também os escândalos e corrupções da contemporaneidade, em sintonia com o futurismo.
O ideal futurista em Álvaro de Campos fá-lo distanciar-se do passado para exaltar a necessidade de uma nova vida futura, onde se tenha a consciência da sensação do poder e do triunfo.
Esta fase também está marcada pela intelectualização das sensações ou pela sua desordem. Como verdadeiro sensacionista, procura o excesso violento de sensações à maneira de Walt Whitman. Contudo, o seu sensacionismo distingue-se do seu mestre Alberto Caeiro, na medida em que este considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade, mas rejeita o pensamento. O mestre, com a sua simplicidade e serenidade, via tudo nítido e recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade por estar de acordo com a Natureza; já Campos, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura sentir a violência e a força de todas as sensações ("sentir tudo de todas as maneiras").
O poema "Ode Triunfal" exemplifica claramente esta fase poética do heterónimo Álvaro de Campos. O título sugere logo qualquer coisa de grandioso, não só no conteúdo como na forma. A irregularidade métrica e estrófica, típicas da poesia modernista, afastam logo o poema da lírica tradicional portuguesa. Este ritmo irregular traduz a irreverência e o nervosismo do próprio poeta. A nível estilístico, sobressaem inúmeras metáforas, comparações, imagens, apóstrofes, anáforas (entre outras), a fim de realçar o sensacionismo de Campos. Há que destacar que nem tudo é entusiasmo nesta ode. Assim, logo no início, o poeta escreve "A dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica" e tem "febre". Ao longo do texto há um desfilar irónico dos escândalos da época: a desumanização, a hipocrisia, a corrupção, a miséria, a pilhagem, os falhanços da técnica (desastres, naufrágios), a prostituição de menores, entre outros. O poeta tanto manifesta o desejo de humanizar as máquinas, através das apóstrofes ("Ó rodas, ó engrenagens, ó máquinas!..."), como também de se materializar ao identificar-se com as máquinas ("Ah! poder eu exprimir-me como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!"); O mais surpreendente no poema é que, depois de o poeta ironizar os ridículos da sociedade moderna, ele identifica-se com eles ao exprimir ("Ah, como eu desejava ser o souteneur disto tudo!“).

3ª fase: intimista
Esta fase caracteriza-se por uma incapacidade de realização, trazendo de volta o abatimento. O poeta vive rodeado pelo sono e pelo cansaço, revelando desilusão, revolta, inadaptação, devido à incapacidade das realizações. Após um período áureo de exaltação heróica da máquina, Álvaro de Campos é possuído pelo desânimo e frustração.
Parece apresentar pontos comuns com a 1ªfase - a decadentista -, contudo, há que sublinhar que a intimista traduz a reflexão interior e angustiada de quem apenas sente o vazio depois da caminhada heróica.
Segundo Jacinto do Prado Coelho, este Campos decaído, cosmopolita, melancólico, devaneador, irmão do Pessoa ortónimo no cepticismo, na dor de pensar e nas saudades da infância ou de qualquer coisa irreal, é o único heterónimo que comparticipa da vida extraliterária de Fernando Pessoa, afirmando o próprio "eu e o meu companheiro de psiquismo Álvaro de Campos".
Em "Lisbon revisited" (1923), o poeta debate-se com a inexorabilidade da morte, desejando até morrer ("Não me venham com conclusões! / A única conclusão é morrer."). Todo o poema é disfórico, daí a acumulação de construções negativas. Recusa a estética, a moral, a metafísica, as ciências, as artes, a civilização moderna, apelando ao direito à solidão,apontando a infância como símbolo da felicidade perdida ("Ó céu azul - o mesmo da minha infância - / Eterna verdade vazia e perfeita!").
Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido ("O que há em mim é sobretudo cansaço -"; "Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: / Porque eu amo infinitamente o finito, / Porque eu desejo impossivelmente o possível"). A construção antitética destes versos é, sem, dúvida, o espelho do interior do poeta.

Álvaro de Campos


Álvaro de Campos (1890- …)
(Poeta Modernista)

Aspectos biográficos


Nasceu em Tavira, em 15 de Outubro de 1890.
Fez o liceu em Portugal e o curso de Engenharia na Escócia.
Engenheiro naval (por Glasgow), vive “agora” em Lisboa.
Viajou pelo Oriente (de onde resultou o Opiário).

Alto, magro e com tendência a curvar-se.
(Elementos retirados da carta a Adolfo Casais Monteiro, 1935)

O que diz. Como o diz.


· Poeta modernista, sensacionista, a sua poesia tem três fases: decadentista, futurista e pessoal-intimista.

Fase decadentista:
- tédio e horror à vida
- “nostalgia de além”
- “embrieguez do ópio e dos sonhos”

Fase futurista:
- exaltação da civilização industrial
- procura de sensações fortes e modernas
- “apologia de um novo homem, isento de dor, livre”

Fase pessoal-intimista:
- reminiscências do mundo fantástico da infância
- solidão interior, angústia existencial
- cepticismo e dor de pensar
- tédio, náusea, desencontro consigo mesmo e com os outros

· Predomínio da emoção espontânea e torrencial.

· Elogio da civilização industrial, moderna, da velocidade e das máquinas, da energia e da força, do progresso.

· Poeta virado para o exterior, tenta banir o vício de pensar e acolhe todas as sensações (segundo a lição do seu Mestre Caeiro).

· Ansiedade e confusão emocional. Angústia existencial. Sentido do absurdo.

· Tédio, náusea, desencontro com os outros.

· Presença terrível e labiríntica do Eu de que o poeta se tenta libertar.

· Fragmentação do Eu, perda de identidade.

· Excitação da procura, da busca incessante.

Arte Poética de Álvaro de Campos.
· Presença do biográfico.
· Verso: decassílabos agrupados em quadras (Opiário).
· Verso livre, longo.
· Estilo esfuziante, torrencial, dinâmico.
· Estilo exclamativo, anafórico, interjectivo; recurso à reiteração de apóstrofes e enumerações.
· Comparações, metáforas e antíteses arrojadas.

Álvaro de Campos é:
o sensacionista das grandes odes à civilização moderna com todas as emoções que contém;
o ocultor das sensações sem limite" Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!";
o poeta da energia, da velocidade e das máquinas, da vitalidade e do progresso;
o modernista por excelência, que concebe a arte assente na ideia de força, do ímpeto, da fúria e da emoção espontânea;
o poeta de estilo impetuoso, febril e do verso torrencial e livre;